21.6.15

Trinta dias


Um mês, quatro semanas, trinta dias, 720 horas. Esse é o tempo que falta para eu estar nos braços e beijos de vocês. É o tempo que falta para eu chegar no dia mais torturante da minha vida: dizer adeus a uma nova vida a qual eu sou loucamente apaixonada. É o tempo que falta para eu entrar num avião, ver minha Holandinha pela última vez e me preparar para chegar ao lugar o qual eu me orgulho de ter vindo. É o tempo que falta para eu volta para casa, para o meu Brasil.

Não me leve a mal, mas sim, eu estou triste, tão triste que sinto uma dor terrível no meu coração, afinal estão tirando de mim a minha vida nova, a qual eu sofri para construir, a qual me faz ser a pessoa mais feliz desse mundo, a qual me ensinou que eu sou livre, que eu sou capaz, a qual eu me orgulho de ter vivido. Sim, eu já perdi muitas coisas nessa vida, mas essa perda, ah essa está me matando aos poucos.

Não me leve a mal, mas NÃO, você não me entende, você acha que eu sou mimadinha, frescurenta e ingrata, mas você não sabe nada da vida, você não viveu o que eu vivi, você não viu o que eu vi, então NÃO, não me venha com esse papinho ridículo de que vai ficar tudo bem, que eu deveria estar feliz por estar voltando para minha casa, para minha família, amigos, para meu país, como se eu não tivesse tudo isso aqui.

Não me leve a mal, mas fique quieto, respeite minha dor, minha tristeza, respeite o fato - e o meu direito - de estar triste por ter tido o melhor ano da minha vida e ter que me despedir dele. Dele, dos meu novos amigos, da minha nova família, do meu novo país.

Não me leve a mal, mas faz o seguinte, não fala nada não. Me deixa. Me deixa chorar, gritar, me sentir idiota, sentir saudade. Me deixa quietinha com meus sentimentos, os quais você julga serem negativos e infantis. Me deixa desejar até eu não conseguir mais, poder voltar. Me deixa falar meu inglês misturado com holandês que você não entende. Me deixa falar das mil e uma coisas que vivi aqui 200 vezes.

Não me leve a mal, mas NÃO, eu não sou ingrata, pelo contrario, talvez esse seja o motivo de tanta tristeza e lágrimas. Não me julgue, só entenda que não será apenas levantar a cabeça, colocar o meu melhor sorriso no rosto e seguir em frente. 

E por fim - com um desespero assustador no meu coração - eu te digo: não me leve a mal quando você ler tudo isso, pois apesar da dor, da tristeza, da vontade de me jogar na frente de um trem eu estou sim muito feliz e ansiosa para voltar. Estou com muita saudade de tudo, dos amigos, da família, da nossa cultura, da nossa comida, de ir ao mercado e entender todos os rotulos, do calor humano dos brasileiros, dos abraços, do Brasil. E ao mesmo tempo que estou chorando ao pensar que só tenho mais um mês aqui, estou contando os minutos para poder chegar e rever todo mundo.

Não me leve a mal!

6.5.15

República Tcheca

A chegada prevista em Praga era lá pelas 3 horas da madrugada, porém, quem disse quem chegamos lá esse horário? Chegamos as 05:00, mortas. Eu acho viagens de trens cansativas porque ele para em várias estações e eu sempre tenho medo de dormir e perder a minha então fico acordando o tempo todo e foi assim minha noite no trem.


A moeda é diferente em Praga, não é euro, as casas de cambio estavam fechadas e a que abriria mais cedo seria 06:30. O jeito era esperar, estávamos cansadas, com fome, com sono e foi aí que eu me lembrei que aquele australiano que eu conheci em Bratislava tinha me dado umas moedas "praguenses" (esqueci o nome da moeda de lá), porque ele tinha passado por lá e não voltaria, naquele segundo eu amei tanto ele, mandei tantas energias positivas em agradecimento que ele deve ter sentindo até uma paz interior enorme. Consegui comprar dois cafés e ainda sobrou troco. 


Eu e Bells sentamos no lugar onde eu comprei o café e usamos o wifi para descobrir se valeria a pena sacar dinheiro da nossa conta holandesa (que sairia na moeda local) ao invés de trocar, pois as taxas de troca estavam muito altas. Não estávamos com 100% de certeza, mas decidimos sacar e foi a melhor coisa que poderíamos ter feito. Fomos para o hostel, mas não pudemos fazer o check-in, tivemos que esperar o café da manhã, aproveitamos e comemos. Depois a moça da recepção fez a maior confusão, nos deixou confusa mas por fim conseguimos pagar a reserva e ir para o quarto dormir.


Quando acordamos fomos ao mercado, a Bells foi comer num restaurante vegano e eu fui para o hostel comer pizza. Conheci um brasileiro lá que disse ser médico neurologista. Não acreditei muito não. Quis chorar a hora que cheguei no hotel, achei horrível e se ele fosse médico mesmo não estaria lá, pensei eu, mas no fim da viagem eu estava apaixonada pelo hostel. Nessa noite saímos com uns meninos que estavam no hostel. Fizemos amizade com uns franceses do nosso quarto e depois com o povo todo que estava na cozinha e fomos todos juntos.


Eu me apaixonei por um turco, ele estava no hostel também e no bar ele veio me procurar, o que consideramos milagre aqui porque esses europeus, vou te contar viu, enfim, conversei com ele, depois nos perdemos, aí meu narriz começou a sangrar demais (para quem não sabe ele sempre sangrou e do nada, desde que eu era criança), quando finalmente parou achei a Bells que estava conversando com o monge (um ser que estava no hostel, parecia um monge, falava supeeeer baixinho que não dava para entender nada e que disse estudar teologia ou algo do tipo, era da China se não me engano, para nós será monge forever). Salvei ela da situação porque ele era muito chato e um dos franceses pagou bebida para ela, nisso encontrei meu turco e terminamos a noite abraçados, voltamos para o hostel assim, eu e ele e Bells e o monge hahahaha.



No dia seguinte, era 31/12/2014 fomos dar uma volta no centro da cidade, vimos umas coisas que eu queria, tentamos fazer o walking tour mas perdemos porque a Bells quis tirar foto com um porquinho --' comi no subway esse dia, lembro que não estava um clima de ano novo no ar, estava tão estranho, frio, neve, eu cheia de roupa. Mais tarde encontramos a amiga da Bells, antes eu quase dormi em pé num shopping, fomos para o nosso hostel, cozinhamos (feijão, lentilha e nosso risoto de natal), jantamos e fomos para o centro ver os fogos com o indiano que estava no nosso quarto.


O plano era ir para o castelo e ver os fogos de lá, mas claro que estávamos atrasados e perdemos. Paramos numa praça lá para ver os fogos, estava garoando. Foi estranho, eu chorei. Senti saudade de casa, de pular as sete ondas (eu a Giovanna pulamos sete degraus de escada rolante - na verdade foram uns 20 :P), do calor, de abraçar minha família... Fiquei um pouco desorientada pela meia hora seguinte, tentamos ir para a Charles Bridge, sem sucesso, os transportes pararam de funcionar e o indiano estava nos deixando loucas! No meio do caminho nos separamos dele e tentamos voltar para o hostel, paramos num mercadinho, eu comprei sorvete e fomos procurar um ônibus.

Sim vó, tomei cerveja de maconha, mas
juro que foi sem querer, escolhi a mais
barata e nem vi que era de maonha.

Pegamos um ônibus e depois um metrô cheio de gente doida, um cara super bêbado conversando com a gente, no final até que foi engraçado e eu choro de rir ao lembrar, mas na hora eu queria chorar. Chegamos no hostel e estava um super cheiro de sopa, eles tem uma sopa típica para o fim do ano lá, a cozinha estava cheia de meninos comendo e assim que pisamos lá eles gritaram em inglês "Feeeeeeliz ano novo" eu respondi e comecei a falar com um deles em inglês até que o amigo dele disse depois de ouvir a Giovanna e a Bells conversando: "Cara por que você tá falando em inglês? Ela é brasileira." e foi aí que viramos amigos.


Fiz um macarrão porque estávamos com fome, dali a pouco chegaram outros amigos dos brasileiros e o turco com os amigos turco dele. Ficamos até as 08:00 da manhã na cozinha, esperamos o café, comemos, a Gi foi para o hostel dela e eu e o nosso novo amigo fomos dormir. Quer dizer, eu fui tentar trocar minha passagem antes de ir dormir, porque eu iria embora naquele dia as 17:00, felizmente consegui trocar, voltei para o hostel, dormir, mais tarde todo mundo acordou e ficamos no hostel fazendo nada, jogando UNO, ouvindo música, conversando até tarde.


No dia seguinte fomos no castelo e na Charles Bridge, depois voltamos para o hostel, terminei de arrumar minhas coisas e peguei o ônibus que me traria a minha amada Holandinha. Sem dúvidas esse fim de ano foi um dos mais especiais da minha vida. O anterior a esse foi demais, na praia, com toda a minha família, mas esse teve uma mágica diferente, eu estava realizando meu sonho, estava em outro país, estava viajando, conheci gente nova, fiz loucuras e isso não tem preço.


Depois de 14 horas dentro de um ônibus, finalmente cheguei em casa, quer dizer, cheguei na estação perto de casa, ainda tive que pegar um trem até Naarden, fui para casa andando, arrastando minha mala. Eu estava feliz, me lembro de rir sozinha na rua, finalmente eu estava em casa, minha rotina, minha caminha confortável, meu chuveiro quentinho, meus amigos, minha família, comida e claro estava feliz por ter feito isso, 15 dias viajando "sozinha" pela Europa, jamais terei como descrever o quão incrível foi essa experiência, mas ao mesmo tempo eu estava triste, porque foi tão incrível viajar, praticamente todo dia estar em um lugar diferente, que eu passaria mais 10, 15, 20 dias viajando e claro porque as amizades e coisas que vivi nessa viagem ficariam nela, tinham acabado, eu infelizmente não pude traze-las na mala comigo e principalmente porque eu sabia que aquilo marcava metade do meu intercambio, eu sabia que eu só tinha mais metade do meu ano aqui e eu não estava preparada para isso.

Eslováquia

Chegamos na Eslováquia já era tarde, acho que umas nove horas, estava nevando, tudo branco. Fizemos o check-in no hostel, e fomos atrás de um mercado aberto, pois estávamos com fome e não tínhamos comida. Felizmente achamos uma portinhola aberta, compramos umas coisinhas e fomos para o hostel, claro que eu quase caí mil vezes na neve.


A Bells começou a cozinhar e eu fui tomar banho. Estava cheeeeio de meninos no "hall" do nosso andar, que era onde ficava a cozinha, os banheiros e alguns quartos, eu percebi que eles ficaram me olhando quando eu entrei no banheiro mas nem dei bola - Camila começando as trapalhadas da vida - só entendi o porque quando eu saí do banho e a Bells me disse que eu estava no banheiro masculino. 


Jantamos, aliás vó, agradeça a Bells, ela me ensinou nesse viagem a comer lentilha e feijão (: e foi essa nossa janta se não me engano, porque não tínhamos muito, mas estava ótimo, estávamos conhecendo o mundo, nos jogando de cabeça numa aventura fantástica da qual nunca nos esqueceremos. Fomos para o bar do hostel que estava fechado --' e como não tínhamos muitas opções fomos dormir. 


No dia seguinte, demos uma volta ao redor (Bratislava é muuuuuuuuito pequena), almoçamos, compramos umas coisas porque  é muuuuuuuuuuuuuuuuuuito barato tudo lá, me senti muito rica, aliás acho que eu fui rica lá haha. Fomos ao mercado, compramos comidinhas e bebidinhas e voltamos para o hostel cozinhar e tomar banho, mas antes demos uma passadinha no bar onde conhecemos um monte de brasileiros, um australiano que eu amo tanto, mas tanto porque ele salvou nossas vida em Praga (próximo destino, lembre-se do australiano) e mais uma galera de várias nacionalidades. Combinamos de ir para a night juntos.


Saímos do hostel numa galera, parecia arrastão. Tinha nevado o dia todo, o chão estava cheio de pedras enormes de gelo e coberto de neve e assim fomos nós, chutando pedras e tremendo de frio. Chegamos na baladinha que não estava láááá essas coisas, mas era o que tinha para noite. Lá eu tomei a pior cerveja da minha vida. Depois de 5 minutos na balada me senti no Brasil, só tinha brasileiro no lugar e pior (ou melhor) estavam todos no nosso hostel, metade deles no nosso quarto, eeeeee mundo pequeno viu, Brasilzão dominando as Europa.


No outro dia acordamos cedo e fomos fazer o tal do walking tour (um tour andando, vó), porém estava muuuuuuuuuuuito frio, uma nevasca super forte, uma neve no chão que dava para afundar o pé, continuamos, mas chegou uma hora que não aguentamos mais e desistimos. Entramos num café, tomamos um coffee bem quentinho, nos aquecemos e criamos coragem para sair no frio novamente. 


Visitamos um castelo e fomos comprar nossas passagens para Praga, nosso próximo e último destino (sim, deixamos para a última hora, só digo uma coisa: BELLS!), claro que não tinha mais ônibus, nem caronas, nem nada. Quando eu já estava quase sentando no chão e chorando conseguimos comprar uma passagem de trem para a mesma noite. Voltamos para o hostel, encontramos nossos amigos brasileiros, dormimos sentadas no sofá, jantamos e fomos para a estação de trem. Claro que precisava fazer uma para fechar com chave de ouro Bratislava, pois bem, saí para comprar água, já que nossa viagem de trem seria longa, porém parei para comprar um café e quase perdi o trem :D mas no final deu tudo certo e partimos rumo a República Tcheca.

Áustria

Eita, lá vou eu atrasadíssima falar da minha viagem para a Áustria que foi super desprogramada e de última hora, mas no final, como sempre, deu tudo certo e foi super legal!


Como eu já disse em posts anteriores da minha viagem de fim de ano, deu tudo errado, eu iria para a Itália e ficaria lá meus 15 dias de férias, porém, tudo deu meio que errado e eu fui mudando tudo e me adaptando ao que dava para ser feito.

Eu e minha amiga/vizinha passamos pela mesma situação: programamos a viagem e fomos largadas para trás pelos nossos parceiros. Choramos? Desanimamos? Quisemos voltar correndo para o Brasil? Mas claro que... SIM :D mas aí tivemos que encarar a realidade (sem papai, mamãe, vovó para ajudar) e tomar decisões de última hora.


Minha amiga ligou para uma amiga dela também brasileira que morava na Áustria e pediu para passar o natal lá, ao invés de passar sozinha em Paris, a amiga disse que ela poderia ir sim, porém momentos depois chego eu desesperada na casa dela, quase chorando, dizendo que passaria o natal sozinha, logo a parceria falou mais alto e ela disse "NÃO! Você não vai passar sozinha, vamos dar um jeito, você vai para a Áustria comigo!". E assim fomos nós para a Áustria.

Chegando em Viena fui ajudada por uma brasileira que estava no mesmo ônibus que eu (oh povo unido que se ajuda eim), encontramos o metrô que precisamos pegar e fomos. Coincidentemente ela também morava na Holanda, os planos dela de fim de ano também tinham dado errado e ela estava indo para a casa de uma amiga e depois iria passar o ano novo em Praga (EU TAMBÉÉÉÉM). Chegamos na estação onde ela trocaria de "transporte" e eu encontraria a Bells. Não sei descrever minha alegria ao encontrar minha amiga, sai correndo e quase derrubando tudo, queria chorar de tanta alegria, finalmente não estava mais sozinha!


Foi na Áustria que eu e Bells começamos nosso "relacionamento" hahaha dizemos isso porque dividimos TUDO (tá, quase tudo), inclusive o dinheiro. Ela pagou tantas coisas para mim que eu deverei para o resto da vida, mas somos muito amigas então eu comprava uma coisa aqui, ela comprava uma coisa lá e assim vivemos nossos 10 dias juntas, agradecendo a cada segundo ao santo pai dela que mandou dinheiro de presente de natal e assim, graças a ele, não precisamos pedir esmola.

Sinceramente achei a Áustria cara, principalmente em relação a comida, mas é um país muuuuuito lindo, me apaixonei! Como era época de natal visitamos mercados de natal (para você que não sabe, Viena é super famosa por seus mercados de natal), bebemos gluhwein e vimos neve. Sim, foi em Viena que eu vi neve pela primeira vez, parecia uma criança. Bebemos cerveja austríaca, nos divertimos muito com os amigos dela que cozinharam um negocio muito bom que eu amei e não me lembro o nome, mas era tipo um nhoque com semente de papoula, típico de lá. Claro que eu fui parar numa balada gay (podem dizer o que for, aquilo era uma balada gay sim!) e depois de 4 dias fomos para o nosso próximo destino.


Iríamos para Eslováquia, de carona :O caaaaaaalma vó, é um site bem popular aqui na Europa, que você paga super baratinho. Chegamos uma meia hora mais cedo no lugar onde pegaríamos a carona, até porque estávamos desde cedo na rua, passando frio e comendo nossas comidinhas feito duas farofeiras. Ah foi em Viena que eu tomei o melhor sorvete da minha vida, jamais me esquecerei, um frio congelante e tomando sorvete. Enfim, estávamos nós esperando a dita da carona, eis que o motorista avisa que está mais ou menos 2 horas atrasados por causa da neve. Esperamos né? Não tínhamos outra opção mesmo, porém entramos num "café" para esperar, já que estava um frio desumano lá fora. Dividimos uma cerveja ruim, compartilhamos do ar completamente "poluído" pela fumaça de cigarro dos queridos fumantes que lá estavam e jogamos UNO, porém estamos tão entediadas que o objetivo era quem perdesse por último ganhava, e quando vimos estávamos com o baralho todo na mão. Depois de um bom tempo de espera a carona chegou e seguimos em frente.


Happy 8 and 9 months in Holland

Sim, já se passaram nove meses desde que eu peguei aquele avião cheia de dúvidas, medos, incertezas, esperança, alegria e curiosidade em saber como seria o caminho que eu tinha escolhido explorar. Parece que foi ontem, assim sente meu coração se, mas minha alma está tão cheia que parece que se passaram 20, 30, 50 anos.




Hoje vou falar sobre meus 8 e 9 meses juntos porque eles são muito parecidos - mentira, porque eu esqueci mesmo do oitavo mês. A verdade é que parando para pensar o sentimento e as vivências foram bem parecidas, algumas coisas se acentuaram mais em um mês do que no outro mas são iguais e o sentimento atual é muito parecido.

Durante esses dois meses, que talvez tenham sido os mais especiais de certa forma, eu fui a Paris e a Londres, dois sonhos incríveis, quase que impossíveis e lindos demais. A emoção foi e ainda é indescritível, olho as fotos e nem acredito, mas apesar dessa alegria e emoção tenho dois sentimentos que me acompanharam praticamente todos os dias nesses dois meses:

O medo de ir embora, a tristeza em ver meu intercambio acabando e não poder fazer absolutamente nada para parar isso. Esse sentimento é horrível, é dolorido, é desesperador, só de pensar já quero chorar. Vocês, talvez (provavelmente para a minha infelicidade), nunca me entenderão, eu vou querer falar só da Holanda e das minhas viagens, vou querer falar holandês e inglês, vou dizer que não lembro como se diz tal coisa em português ou que não sei traduzir (isso é verdade, já está acontecendo) e vocês vão cansar, vão odiar, vão me achar chata e metida. Toda vez que tocar uma música que me lembre algo eu vou chorar, toda vez que eu ver fotos eu vou chorar, eu vou ficar depressiva e vocês vão dizer que é manha, que é frescura, que eu sou mimada. A verdade é que eu comecei uma vida nova aqui, fiz amigos, construí uma família, me apaixonei e agora estou deixando tudo isso para trás e isso dói.

O outro sentimento que me invade as vezes é mais alegre, ele me diz "Camilaaaaaaaaa, você conseguiu, você veio para cá, você realizou seu sonho, olha tudo que você viveu, calma, você ainda tem tempo, vai curtir esse pouco que te resta". Eu acho que o meu nono mês foi preenchido mais desse sentimento, porque eu finalmente me dei conta de que não poderia fazer nada para mudar essa realidade e que mesmo que eu quisesse muito ficar eu teria que ir embora, então já que não se pode fazer nada para mudar, vamos aproveitar, mas claro que tive meus momentos de tristeza e de chorar sozinha até dormir. Metade de mim é medo e tristeza e a outra metade é alegria e vontade de sair correndo fazendo tudo que eu ainda não fiz e tudo que eu ainda posso fazer.

Não fiquem chateados meus amores do Brasil, eu os amo, sinto saudade de vocês e quero sim voltar logo e abraça-los, porém a minha Holanda ficará para trás, vocês estarão aí para sempre e a minha parte laranja morrerá em alguns meses, não morrerá (que depressiva), mas ficará para trás e NÃÃÃÃÃÃÃÃO, não vai resolver voltar como turista, tudo estará diferente, minha família não será mais a MINHA família, meus amigos de intercâmbio não estarão mais aqui, então, não, não tem solução, eu aceito isso, aceitem também e parem de tentar remediar, achar uma "solução", simplesmente não existe ok mãe? Ok pai? Ok vó? Eu vou embora e isso vai acabar, that's it! Fim, bye, obrigada! 

Kusjes.

25.3.15

Hungria, oi e tchau!

Há quem diga que eu não estive por lá, mas eu estive sim. Não vi nada, mas estive haha. Não posso dizer se é bonita ou feia. Passei horas lá, mas não posso deixar de elogiar as pessoas, sem dúvidas um dos povos mais receptivos, amigáveis e gentis que eu conheci (holandeses continuam sendo os principais).


Acontece que, só para variar um pouquinho, eu fiz uma confusão com a viagem. Tudo dando errado e eu não sabia mais o que fazer e tudo já comprado e acabou que eu precisava trocar uma das minhas passagens de avião para algum lugar. Minha amiga estaria em Viena e eu queria passar o natal com ela (duas abandonadas). Não encontrei mais voos para lá porque era natal e esta em cima da hora, então comprei um voo para Budapeste e de lá iria para Viena.

Sai de Roma antes das 9h e cheguei em Budapeste sabe Deus que horas, acho que umas 11h ou era 10:30? Por aí. Já de cara, no aeroporto encontrei brasileiros. Não quis trocar meu dinheiro porque ficaria lá até as 15:30 só, então resolvi comprar a passagem do ônibus+metrô para o lugar que precisava ir no cartão. Saí do aeroporto meio perdida, sem saber onde e qual ônibus pegar, perguntei a um homem e ele me ajudou, disse que desceria no mesmo lugar que eu então me avisaria. Descemos e pegamos o metrô e novamente desceríamos no mesmo lugar. Ele não falava um inglês muito bom, mas se esforçou para me ajudar. 

Quando saímos do metrô ele perguntou para onde eu precisava ir (ah, no metrô encontrei mais brasileiros), eu expliquei, ele foi comigo até os policiais e perguntou na língua dele onde eu precisava ir, eles informaram e ele traduziu para mim. Logo em frente a "rodoviária" tinha um estádio, pedi para uma mulher, que de certa forma lembrava minha mãe, tirar uma foto, ela falou algo em húngaro que eu não entendi, então fez um gesto, tipo uma passarinho, procurei por avião e não achei, aí ela apontou para frente e eu vi um pássaro gigante de metal e disse "aaaah, bird?" e ela tentou repetir "bird" e fez que sim com a cabeça. Aí tentou me explicar como chegar lá. Fui, tirei umas fotos, andei por perto e voltei.


Não tinha moeda húngara, nenhum dos lugares aceitava euro, me restou comer o croissant que eu tinha trazido da Itália e o capuccino que eu consegui comprar na máquina. Coloquei 1 euro achando que não conseguiria comprar nem uma gota de café, porém consegui um capuccino e 130 dinheiros húngaros de troco. RICAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! 

Esperei mais um bom tempo, amém Jesus tinha wifi no lugar, então pude me distrair. As 15:30 peguei o ônibus rumo a Viena, cheio de brasileiros é claro. Uma das brasileiras desceria no mesmo lugar que eu na Áustria então disse que me ajudaria. E assim acaba minha aventura de algumas horas na Hungria.



Roma, uma loucura sem fim

Quando eu cheguei em Veneza perguntei na estação quanto custava a passagem de trem até Roma, me disseram 19 euros, tranquilo, super barato, perguntei se poderia comprar na hora e disseram que sim. No dia de ir para Roma cheguei cedo na estação e fui comprar a passagem, fui informada que o valor era 87 euros, que quando comprada na hora a passagem é mais cara. Queria morrer, mais caro que meu voo Amsterdam -Milão. Pedi outras opções e a única, além desse roubo custava 42 euros, demorava 7h30min e precisava fazer conexão, considerando que sou rica só nos meus sonhos e que eu ainda passaria por mais 4 países, essa foi a opção escolhida.


Saí de Veneza as 10:42 dormi até Bologna, a primeira parada. Peguei outro trem lá 13:10, desceria em Prato Centrale as 14:23, porém eu no meu desespero vi 13:23, o trem não chegava nunca, quando era 13:30 pensei "pronto,já era, perdi todos os trens, agora sabe Deus o que eu vou fazer". Perguntei para a mulher que estava sentada na minha frente que horas chegaríamos em Prato Central mais ou menos e ela me disse 14:23, olhei no papel, entendi tudo, relaxei e curti a paisagem, super linda.

Em Prato eu peguei um trem para Florença. Cheguei lá 14:50 e o trem que finalmente me levaria direto para Roma estava atrasado. Esperei uns 20 minutos eu acho até que o trem chegou. Enquanto esperava vi um italiano LINDO. Ele entrou no mesmo vagão que eu e sentou na minha frente, morri. Perguntei em inglês sobre o banheiro, ele me respondeu em inglês não saber. Fui e quando voltei o pai dele estava sentado do outro lado e ele sozinho de frente para mim. Acho que ele estava doente tadinho. O pai dele disse em italiano para ele "Bonita!" e ele vermelho perguntou quem o pai disse "Essa 'dona' na sua frente", ele mais vermelho ainda respondeu que sim e o pai disse "Para você, claro" e ele sorriu e foi aí que eu percebi que realmente tenho que ser cuidadosa com o que falo, assim como eu entendi o que eles conversaram, há quem me entenda também.

O italiano lindo desceu em Terontola. Eu comecei a ficar impaciente, fazia muito tempo que estava no trem, dormi, acordei, dormi, ouvi musica, dormi, li, dormi, escrevi e nada de chegar. Estava um calor insuportável lá dentro. Já era noite quando finalmente cheguei em Roma. Outro sonho!

Comprei ticket para o trem, comprei um sanduiche de salame italiano e uma coca no mercado e fui para o hostel que ficava do lado do aeroporto. Eu só fui para Roma na verdade porque no dia seguinte pegaria um voo super cedo lá. Cheguei no hostel morrendo, graças a Deus esse era decente. Quarto limpinho, cama boa, banheiro bom, perfeito. 

Saí do banho e tinha um menino no meu quarto, comecei a arrumar a mala para o dia seguinte e ele começou a conversar comigo, para ser sincera não entendi se ele é italiano ou francês, só sei que ele mora na Polónia haha. Ele me disse que passou pela maior confusão durante a viagem para a Itália (ele estava indo visitar a mãe) e que queria muito ir visitar o Coliseu. Eu falei que também queria, mas que sozinha não iria então decidimos ir juntos.

Acho que essa foi a maior loucura que fiz na vida (mentira, fiz pior aqui na Holanda). Pegamos um trem as 23h descemos na estação de Roma Termini e fomos caminhando até o Coliseu, não fazíamos ideia de onde era mas achamos. Quando eu vi o Coliseu eu surtei. Eu não acreditei que estava em frente a um dos monumentos históricos mais formosos do mundo. Eu estudei aquilo, eu vi em livros, em filmes e eu estava lá vendo com meus olhos ao vivo. Todas as aulas de história que eu já tive na vida vieram na minha cabeça naquele momento. Quis chorar, confesso haha. Ainda não acredito que estive lá.

Segundo a recepcionista do nosso hostel para voltar deveríamos pegar um metrô que funcionaria até tarde, porém já não estava mais funcionando, os trens também não e aí o desespero começou a bater. Perguntamos em um ponto de ônibus lotado se algum iria para o aeroporto, nos disseram que não, mas que um deles iria para um lugar próximo onde poderíamos pegar um taxi. 

Pegamos o tal do ônibus que não chegava nunca no ponto que precisávamos descer (detalhe, não sabíamos onde era esse ponto :D) e estava cheio de gente estranha. Quando finalmente chegamos no lugar, o ponto final, já era umas duas horas da madrugada, não tinha taxi. Graças a Deus o último ônibus estava lá, pegamos ele, mas segundo o motorista teríamos que andar uma meia hora partindo da parada mais próxima do nosso hostel. Aceitamos né, meio que não tínhamos outra opção.

Descemos no ponto indicado pelo motorista e andamos só uns 15 minutos. Nem acreditei quando vi o hostel. Conversamos um pouco, terminei de arrumar minhas coisas e dormimos. Antes das 6 eu  já estava em pé. Me despedi do meu amigo e segui rumo ao aeroporto. Lá me despedi com muita dor no coração da Itália, o meu sonho, prometi que voltaria e peguei um voo para Budapeste.

Terminei minha viagem feliz pois realizei um grande sonho, enfrentei tudo sozinha e consegui e termino contando minha história por lá com as duas palavras que marcaram minha estadia:

Grazie. Prego!